quarta-feira, 1 de abril de 2015

Jesus e Mastena - cingidos com o avental - Reflexão para a Quinta-feira Santa

“Pois, quem é o maior: quem está à mesa ou quem ou quem está servindo? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vocês como aquele que serve” (Lc 22, 27)

Iniciando este tempo de graça que é o Tríduo Pascal, nele fazemos mais intensamente, memória da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. É interessante como Jesus inicia este percurso de Cruz e Luz com um gesto desconcertante, incomum, e por que não dizer, inesperado.
Jesus sabia que sua hora era chegada, e nós sabemos, que as “últimas horas” de uma pessoa (quando esta têm consciência de que sua vida terrena está chegando ao fim) são marcadas de muita profundidade e de essencialidade, não há tempo a perder... E Jesus não perde tempo! Na última refeição ele quis deixar um legado aos seus discípulos e a sua Igreja. O legado do SERVIÇO, fazendo questão de ressaltar: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13, 14-15).
Neste itinerário serviçal, deixado a nós pelo Senhor, ajude-nos Mastena, a mulher do serviço que tendo escutado estas palavras do seu Esposo: “...também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13, 14), imitou na vida esses gestos, tão desconcertantes e de uma kenosis profunda. Salve Mastena, mulher do lava-pés, mulher que fez nascer na Igreja um carisma serviçal, mulher que, tendo cingindo-se com o avental, fez sorrir no rosto de tantos irmãos a Face sofrida de Jesus que espera de nós reparação e amor. Acompanhemos com os olhos da fé estes gestos que ainda hoje nos desconcertam:
- Jesus levantou-se da mesa... O que significa para nós “levantar-se”? Nem sempre é fácil levantar, mais fácil é permanecer sentados, no nosso comodismo, nas nossas seguranças. Levantar é dinamismo! Jesus é dinâmico e nossa fundadora (inspiradora) também, quantas vezes não levantou madre Mastena e não me refiro apenas a um estar de pé, pois isso todos fazemos com facilidade, mas refiro-me a um estar disponível. Madre Mastena escutou e entendeu o convite do Cântico dos cânticos: “Levanta-te, minha amiga, minha formosa, e vem! Eis que o inverno já passou, cessaram as chuvas e se foram. Da figueira brotam os primeiros figos, exalam perfume as videiras em flor” (Ct 2, 10-11.13).
- Jesus tirou o manto... Tirar o manto não é fácil, pois requer desapego. Desapego de tudo o que atrapalha principalmente do status que é próprio das “vestes” que todos os dias colocamos para esconder quem somos. Para servir, precisamos despojar-nos de nossas certezas. Quantas vezes Mastena também despojou-se, deixou de lado as suas vestes? Diante de tantas calúnias quantas vezes inclinou-se deixando de lado suas certezas e confiou em Deus. Foram tantas as vezes que retirou o manto, não o que cobria o corpo, mas o que cobria os olhos, a “venda de pano” que não permitia que Jesus fosse enxergado nos irmãos.
- Jesus tomou uma toalha... Tomar a toalha é ter consciência dos meios que se deve usar para alcançar a finalidade desejada. Quais os meios que usamos para o nosso serviço? Já nos acostumamos com a missão ao ponto de realizá-la de qualquer jeito, ou temos a consciência que cada missão tem seus meios e se queremos alcançar um resultado temos de buscá-los? Madre Mastena, quando o assunto era servir, foi uma mulher incansável que buscava tudo que estivesse ao seu alcance para não ver os irmão sofrerem, pois sabia ela que ali estava Jesus.  Até mesmo os poderosos ela enfrentava nos períodos de guerra para não ver sofrer seus pequeninos. Uma mulher que na vida tomou tantas toalhas...
- Jesus cingiu-se com a toalha... Cingir-se é estar em constante estado de vigilância. Não podemos nos cansar de servir e estar cingido nos ajuda a recordar do nosso compromisso com Deus, com sua Igreja e com o seu povo. Mastena sabia disso, virgem prudente e cingida! Sempre com a lâmpada acessa e atenta às necessidades dos outros. Esquecia até mesmo de si para que o outro fosse amado e lembrado. Não faltou óleo em sua lâmpada, não faltou toalha na cintura, não faltou disponibilidade e amor.
- Jesus derramou água na bacia... O que estamos derramando em nossas bacias? De quê estão cheias? Jesus não derrama simplesmente água, mas muito amor, pois sem este era impossível a realização deste gesto serviçal. Como compreender, sem o amor, um mestre que se levanta, que tira o manto, que toma uma toalha e cinge-se com ela e depois enche uma bacia de água, certamente a esta altura os discípulos já imaginavam o que estava por vir e por isso deviam estar surpresos. Só o amor mesmo é capaz de explicar tal gesto. Madre Mastena também foi mestra nisso, sabia como, quando e de quê “encher a bacia”. Recordo-me de um fato em que ela manda irmãs irem na horta colherem as melhores hortaliças para enviar à casa paroquial de um padre que não a aceitava muito e que por isso a perseguia. Como entender tal gesto sem o amor? Somente quem tem a bacia cheia de amor que o deixa transbordar!
- Jesus pôs-se a lavar os pés dos discípulos... Quanta humildade! Me surpreende esta atitude de Jesus, fez-se escravo, servo, pois não era este o papel do Mestre. Quantas vezes estamos presos em nossos papéis, nos títulos que conquistamos e não queremos descer... E Deus desceu quando se fez carne e tantas outras vezes a Palavra nos revela um Deus que desce. Recordo-me a passagem da pecadora pública pega em adultério, todos a condenavam de pé e amparados pela lei de então, e Jesus se faz um com ela e inclina-se, Jesus desce a ama-a. Esse amor mudou a vida daquela mulher... Quantas vidas seriam mudadas a começar da nossa se aprendêssemos a descer. Madre Mastena desceu... Nunca buscou privilégios! Motivos tinha de sobra, mas nunca os quis. Foi a mulher do lava pés que fez sorrir o Rosto de Jesus. Na vida não fez outra coisa senão servir.
- Jesus enxuga os pés com a toalha... Não podemos parar na metade do serviço, às vezes nos empolgamos com algo e começamos a todo vapor e com todo entusiasmo, mas quando as coisas vão ficando difíceis vamos desanimando e deixando de lado. Jesus nos ensina a assumir a missão o serviço até a última conseqüência, mesmo que nos custe. Mastena também nos ensina isso. Não basta apenas lavar, retirar a sujeira... é preciso devolver à pessoa a sua dignidade. Fazer sorrir a Face de Jesus na face do irmão é não parar no caminho, é seguir na certeza de que estamos cumprindo a nossa missão, lavando os pés, mas também secando-os.
Para nós, Família Religiosa da Sagrada Face, que abraçamos o carisma deixado por nossa Fundadora/Inspiradora, uma certeza nos resta: “Propagar, Reparar e Restabelecer”, não é outra coisa senão, lavar os pés dos irmãos. É esta a missão que o Senhor nos confia, a nós que somos seus amigos, discípulos missionários, e isso nos fará verdadeiramente felizes, pois “Felizes os escravos que o senhor achar vigiando. Eu vos asseguro: Ele cingirá o avental, fará com que se ponham à mesa e os servirá. Se chegar à meia noite ou às três da madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles!” (Lc 12, 37-38).
Que nestes dias o Senhor do serviço, por intercessão da discípula do serviço (Mastena) nos conceda a graça de descer sempre, pois o maior de todos fez-se o menor para nos dar o exemplo! Que Deus nos abençoe!
Dannilo Luiz
Noviço dos Religiosos da S. Face
Fortaleza-CE

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