segunda-feira, 21 de abril de 2014

RESSUSCITOU, COMO HAVIA DITO! (Meditação para o tempo Pascal)

A Igreja é rica em simbologia – não no sentido supérfluo da palavra, mas mistagógico -, isto é, repleto de um mistério que enche o nosso coração de espanto e alegria. Foi assim com os soldados que vigiavam o corpo de Jesus, foi assim com Maria Madalena e a outra Maria, foi assim com o discípulo amado e com Pedro e foi assim com os primeiros cristãos que se seguiram a partir da sua ressurreição. Espanto e alegria. Que atitude me encheria o coração se eu não conhecesse as Sagradas Escrituras que narram a história da humanidade e da sua redenção pela opção salvífica do Cristo? Acreditaria? É interessante observar nisto tudo que o discípulo amado, embora tendo corrido à frete de Pedro, como quem quisesse a primeira prova, não teve coragem de entrar, e somete após Pedro, já imbuído talvez de um sentimento que trazia à tona tudo o que Jesus fez e lhe disse, entrou e confirmou. O outro discípulo quando entrou também acreditou porque viu as faixas deixadas, mas o Evangelho diz que eles ainda não haviam compreendido as Escrituras. Foi preciso ver para crer. Então, acreditar em Jesus Ressuscitado é acreditar nas Escrituras.
Continuando com nossa meditação e percorrendo o Evangelho da Ressurreição, nos deparamos com outra imagem estupenda. As mulheres ao se depararem com o Anjo de Deus ouvem da boca dele: “Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar em que Ele estava. Ide depressa contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos e que vai à vossa frente para a Galileia. Lá vós o vereis. É o que tenho a dizer-vos”. (Mt 28, 5-7)
De fato, elas entraram no lugar ode puseram Jesus, mas tão depressa correram para a Galileia para ver Jesus. “Alegrai-vos”, foi a saudação de Jesus que imediatamente foi correspondido pelas mulheres que se aproximaram, prostraram-se e abraçaram os pés de Jesus. Que cena bonita! Que encontro espetacular! Eis que não há mais medo, angústia, sombra ou dúvida, mas ALEGRIA! As mulheres tiveram o seu mais significante encontro. Será que nós correríamos ao encontro de Jesus tão logo soubéssemos da novidade? E os linhos? E a pedra? E o Anjo?
Ficaram lá no sepulcro sinais da Ressurreição, sinais do divino, sinais de mistério, mas elas não ficaram presas aos sinais, e sim ao encontro. Foram ao encontro. Foram à “antiga Galileia”. O Papa Francisco já nos dizia ontem na Vigília Pascal:
“A Galileia é o local do primeiro chamado, onde tudo começou!”
Então voltar lá significa voltar às origens de nossa fé, de nossa vocação, do nosso credo. Voltar lá significa ir por onde Jesus percorreu, pegando, relendo e bebendo da fonte inesgotável que é o Ressuscitado. O Papa ainda continua:
“Para cada um de nós existe uma "Galileia", no início da jornada com Jesus "Ir para a Galileia" significa algo bonito para nós, significa redescobrir o nosso Batismo como fonte de vida, tocar em uma nova energia para a raiz de nossa fé e da nossa experiência cristã. Voltar para a Galileia significa antes de tudo voltar lá, naquele ponto onde a graça de Deus brilhando me tocou no início da jornada. É daquela centelha que pode acender o fogo para hoje, para cada dia, e trazer calor e luz para os meus irmãos e as minhas irmãs. A partir dessa faísca incendeia uma alegria humilde, uma alegria que não ofende a dor e o desespero, alegria e bom tempo.”
O Evangelho continua e nós continuamos a refletir: “Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão”. (Mt 28, 10) É o mandato de Jesus: Ir aos encontro dos nossos irmãos, que são seus irmãos, e anunciar esta grande alegria. Cabe a nós, hoje, anunciar a ressurreição de Jesus. Se ainda estamos com medo, com certeza a dúvida vai me visitar: Como farei isso? De que forma anunciarei esta alegria? A quem irei? Mas, Jesus manda irmos aos irmãos, então não falta a quem ir. São tantos irmãos hoje que precisam desta notícia porque vivem à sobra da fome, vivem à margem dos privilegiados, vivem a espera de direitos como a moradia, a saúde, a educação, o amparo. Quantos irmãos abandonados à própria sorte! O que fazemos para esses mais desfavorecidos?
Remeto-me mais uma vez ao Papa Francisco quando em visita a Assis, dizia às crianças e jovens deficientes que neles, vemos Jesus escondido, ferido, chagado. Precisamos tocar essas chagas, acaricia-las sem medo, sem estranheza. Quantas vezes temos receio de chegar perto dos moribundos, doentes, favelados, mendigos, maltrapilhos, drogados, presos? São essas chagas abertas, como as de Jesus que mesmo ressuscitado mostra suas chagas a Tomé, que precisamos tocar, agora não mais para acreditar, porque já acreditamos, mas para sarar, para reparar, para restabelecer suas dores. O Papa dizia que adoramos a carne de Jesus no altar, nesses irmãos, ouvimos e tocamos.
Ainda um sentimento muito bonito nos toma ao refletir a Ressurreição de Jesus. É que, respondendo hoje ao seu chamado de sermos discípulos, missionários, de irmos ao encontro dos pobres, corremos o risco de cairmos em uma crise profunda de nossa existência e vocação, pois o mundo moderno nos tenta sufocar e iludir as nossas mentes com fantasias e tentações, como facilidades, superficialidades e frieza. Quando por acaso, cairmos assim, lembremos-nos de irmos a “Velha Galileia” e voltar às nossas fontes, ao nosso primeiro chamado, à nossa vocação, ao primeiro amor, à chama do Batismo. Jesus ressuscitou para não nos deixar sozinhos. É um confortável alento sabermos disso. Por demoramos então?
Se lemos nas Escrituras, se ouvimos de sua boca que é o próprio Evangelho, se vemos os linhos deixados, se fomos à Galileia para vê-lo, então só nos resta irmos aos irmãos para dizê-los o mesmo: Ressuscitou, como havia dito! Aleluia! Aleluia!

Postulante Leonardo Fernandes
Religiosos da Sagrada Face

Nenhum comentário:

Postar um comentário