terça-feira, 27 de junho de 2017

A ESTRADA DE MASTENA

Pouco a pouco, passo após passo. O caminho vai se fazendo à medida que damos passos novos, que traçamos as veredas. Já dizia a poetisa Cora Coralina: “Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.
É nesse cenário de estrada, de caminhada, que encontramos a menina Teresa Mastena. No seu coração de criança já ardia as altas temperaturas de uma estrada de sol causticante, de veredas estreitas e muitas vezes, cheias de pedregulhos. Essa estrada que só foi se delineando à medida que a sua coragem e fé foi sendo a força motriz, o instrumento desbravador.
Jesus se apresentava no coração de Mastena desde cedo. Ela ansiava fazer o caminho de Jesus, tendo Ele por companhia e guia. Desde menina ela se deu nessa aventura de pertencer somente a Ele, de ser d’Ele, e para Ele fazer tudo o mais. Assim fez o voto de virgindade com apenas 9 anos de idade, consagrando-se já ali, a pequenina flor que a cada orvalho de um dia novo, desabrochava e exalava suave perfume.
Tendo ingressado nas Irmãs da Misericórdia de Verona, e com a aprovação de quem lhes guiava espiritualmente, Madre Mastena fez o Voto de Vitima, se doando até as mais duras penas, se assim precisasse, para pertencer ao seu amado e doce Jesus. Procurou em tudo, fazer o mais perfeito possível, tendo assim ressalvas de que todo o seu caminho não seria fácil, mas no seu coração já sentia, que se não caminhasse por cima das pedras que encontrasse, o seu caminho jamais seria percorrido. A perfeição está sobretudo, na labuta e coragem de enfrentar as mais duras dificuldades.
Inspirada pelo Divino Amor e debaixo de muita oração, Mastena escreveu a próprio punho, as Constituições da futura Congregação que bombeava como uma veia ao seu coração. Com negações e reprovações, a determinação forte de Mastena fez por determinadas vezes lutar até conseguir a sonhada aprovação daqueles escritos da Regra de Vida da Congregação.
A caminhada não terminou ai, ao contrário, estava só no seu início. Ela foi ganhando novas companhias que com ela, agora botavam os pés no chão da estrada. Não faltaram obstáculos, dificuldades, mas com muita segurança infundia em suas filhas, as Religiosas da Sagrada Face, o mais sereno otimismo, ao passo que elas passaram a seguir também esta bonita trilha espiritual em busca da aprovação da Igreja e reconhecimento pontifício da Congregação.
“Uma mulher muita prudência, nunca precipitada, irrefletida, apegada às próprias opiniões, mas sempre recorrente à reflexão, à oração, ao conselho do próximo...”[1] É assim quando queremos percorrer uma estrada. Encontramos pessoas pelo caminho, temos muitas vezes que parar e olhar qual direção tomar, pedir orientação de Deus por meio da oração. Madre Mastena seguiu assim o seu itinerário até o dia que pôde deixar a estrada de terra e passar a caminhar por sobre os passos de suas virtudes, contemplando o Rosto de Jesus na eternidade.
Tendo aos pouco se consolidado a Congregação, à medida que passaram os anos, também novas casas foram sendo abertas e aquele sonho de tornar conhecida a Face de Jesus ia sendo concretizado. Novas casas na Itália foram abertas, abriu-se a Missão na França que depois veio a fechar, abriu-se a missão no Brasil, se espalhou também pela Indonésia, chegou à Bolívia e aos poucos essa tenda foi e vai ganhando novas estacas e dando apoio a tantos irmãos e irmãs, que peregrinando na estrada da vida, são restauradas as forças da caminhada, reparados os rostos cansados, restabelecidos os sorrisos de semblantes marcados pela dor e sofrimento.
Contudo, o Coração de Mastena foi um coração missionário, nômade, sem morada fixa. Essa estrada não terminou e não termina agora. Era o sonho de Mastena chegar aos quatro cantos da Terra e levar a Face de Cristo. Assim, como foi o seu coração, é também o coração de todo masteniano, de toda masteniana que não mede forças para seguir os seus passos nessa estrada caminhante. As novas vocações, os leigos que se juntam a nós, as Irmãs e irmãos que dão passos determinantes na caminhada, simbolicamente representados nas 10 irmãs que amanhã na Indonésia farão seus votos perpétuos, dão a nós a esperança e fé constantes, de que ATÉ AQUI, O SENHOR NOS CONDUZIU E CERTAMENTE, DAQUI PRA FRENTE, ELE NOS CONDUZIRÁ.
Alfredo Leonardo

[1] Testemunho de Irmã Celina Dalla Torre

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Salve Mastena, andarilha do amor.

Estamos no mês dedicado à Bem Aventurada Maria Pia Mastena, mulher do amor. Não é por puro acaso que a celebramos no mesmo mês em que veneramos o Sagrado Coração de Jesus, que por vezes, coincide no mesmo dia de Festa. Não queremos falar de coincidências, mas de semelhanças. “Deus amor tanto o mundo que mandou o seu Filho unigênito...”[1], este mesmo Filho que, revelando o Rosto amoroso do Pai, quis chamar tantos homens e mulheres para o discipulado do amor. É nesta via amore, que encontramos Madre Mastena, figura de mulher que soube vencer as tribulações numa linguagem compreensível a todos, a do amor.

Um amor capaz de acreditar e esperar contra toda a esperança. Não foram poucos os momentos em que tudo parecia sem saída; não foram poucos os momentos em que recebeu escárnios e difamações; não foram poucos os rostos ensanguentados e desvalidos que ela encontrou durante as duas grandes guerras mundiais; não foram poucas a s dificuldade de fundação e estruturação da modesta Congregação da Santa Face. Contudo não bastaram as dificuldades, mas em tudo superando com a “caridade: centro fulgido de todo o movimento do espírito, do coração, de cada ação”[2]. Mastena não desanimou, porque acreditou n’Aquele que muito amou e, procurando configurar-se n’Ele em tudo, foi também toda de Jesus: “Não pode existir algo mais honroso e mais útil que deixar a Jesus todo o domínio do nosso coração, dos nossos julgamentos, da nossa vontade, das nossas obras, da santidade da vida ou da morte.”[3]

O amor vence e alcança tudo, “tudo espera, tudo suporta”[4]. Foi sem dúvida a força motriz que deu resistência à sua caminhada, à sua via dolorosa naquela sexta-feira de 15 de abril de 1927, onde tudo parecia acabado, no coração ardia a esperança. Como com os discípulos que caminhavam até Emaús, com os rostos triste e abatidos porque não enxergavam em sua frente nada além do fracasso da Cruz, porém, no coração uma força fazia germinar a esperança. Um amor resistência que fez desejar ficar um pouco a mais com aquele forasteiro suave e doce, um desconhecido de aparências, mas muito intrínseco às suas lembranças. É como diz a linguagem poética: “é um andar solitário ente a gente”.[5]

Hoje vemos Mastena como a mulher que acreditou em sua intuição, que acreditou no amor de Deus nas coisas simples, que apostou com muito entusiasmo e determinação até o ponto mais alto de sua jornada, aquele milésimo de segundos que se deu no momento em que Jesus partiu o pão, e foi reconhecido; antes fazendo arder o coração, agora frente a frente com Ele; na vestição das primeiras Irmãs, na aprovação das Constituições, no reconhecimento pontifício, no crescimento da Congregação e por fim, na sua Páscoa com Jesus. Como aos discípulos, como em Mastena, Jesus parte o pão e caminha hoje, ao nosso lado, fazendo arder o nosso coração, no amor-esperança.

Alfredo Leonardo

[1] Cf. Jo 3, 16
[2] - Dos escritos de Madre Mastena
[3] - Iden
[4] Cf. 1 Cor 13,7
[5] Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"