quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Editorial


Jesus!

Desde o último acontecimento – abertura do Ano Santo -, que estamos vivenciando na Igreja um tempo novo, tempo da experiência da graça de Deus que se dá pela sua misericórdia derramada a todos os povos e nações. Deus não faz distinção e ama a todos com amor incondicional. Assim queremos fazer o nosso caminho como Religiosos da Sagrada Face, procurando ser entre o povo e para o povo de Deus uma porta da misericórdia, “onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança” (Misericordiae Vultus)

Queremos partilhar convosco, amig@ leitor (a) deste nosso canal de comunicação os últimos acontecimentos vivenciados por nossas comunidades presentes em Fortaleza-CE e Cajazeiras-PB.

Primeira Profissão Religiosas de 3 dos nossos noviços;
15 anos de Fundação do Ramo Masculino;
Entrada de mais um noviço na Comunidade de Fortaleza-CE.

Queremos ao longo de nossas próximas postagens dá veemência a cada um desses destaques, como também trazer novidades afim de que cada vez mais tenhamos gosto em difundir o Rosto e Jesus no mundo. Ao final de nossa série, queremos trazer os frutos deixados pelo Ano da Vida Consagrada a partir das alocuções mensagens do Santo Padre, como também de nossa vivência como filhos consagrados do Pai.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Homilia do Papa Francisco na abertura do Ano da Misericórdia

HOMILIA
Praça São Pedro – Vaticano
Terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Boletim da Santa Sé
Irmãos e irmãs!
Daqui a pouco, terei a alegria de abrir a Porta Santa da Misericórdia. Este gesto, como eu fiz em Bangui, muito simples mas altamente simbólico, realizamo-lo à luz da Palavra de Deus escutada que põe em evidência a primazia da graça. Na verdade, o tema que mais vezes aflora nestas Leituras remete para aquela frase que o anjo Gabriel dirigiu a uma jovem mulher, surpresa e turbada, indicando o mistério que a iria envolver: «Salve, ó cheia de graça» (Lc 1, 28).

Antes de mais nada, a Virgem Maria é convidada a alegrar-Se com aquilo que o Senhor realizou n’Ela. A graça de Deus envolveu-A, tornando-A digna de ser mãe de Cristo. Quando Gabriel entra na sua casa, até o mistério mais profundo, que ultrapassa toda e qualquer capacidade da razão, se torna para Ela motivo de alegria, de fé e de abandono à palavra que Lhe é revelada. A plenitude da graça é capaz de transformar o coração, permitindo-lhe realizar um ato tão grande que muda a história da humanidade.
A festa da Imaculada Conceição exprime a grandeza do amor divino. Deus não é apenas Aquele que perdoa o pecado, mas, em Maria, chega até a evitar a culpa original, que todo o homem traz consigo ao entrar neste mundo. É o amor de Deus que evita, antecipa e salva. O início da história do pecado no Jardim do Éden encontra solução no projecto de um amor que salva. As palavras do Génesis levam-nos à experiência diária que descobrimos na nossa existência pessoal. Há sempre a tentação da desobediência, que se exprime no desejo de projectar a nossa vida independentemente da vontade de Deus. Esta é a inimizade que ameaça continuamente a vida dos homens, tentando contrapô-los ao desígnio de Deus. E todavia a própria história do pecado só é compreensível à luz do amor que perdoa. Se tudo permanecesse ligado ao pecado, seríamos os mais desesperados entre as criaturas. Mas não! A promessa da vitória do amor de Cristo encerra tudo na misericórdia do Pai. Sobre isto, não deixa qualquer dúvida a palavra de Deus que ouvimos. Diante de nós, temos a Virgem Imaculada como testemunha privilegiada desta promessa e do seu cumprimento.
Também este Ano Santo Extraordinário é dom de graça. Entrar por aquela Porta significa descobrir a profundidade da misericórdia do Pai que a todos acolhe e vai pessoalmente ao encontro de cada um. É Ele que busca, que vem ao nosso encontro. Neste Ano, deveremos crescer na convicção da misericórdia. Que grande injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando se afirma, em primeiro lugar, que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor, diversamente, que são perdoados pela sua misericórdia (cf. Santo Agostinho, De praedestinatione sanctorum 12, 24)! E assim é verdadeiramente. Devemos antepor a misericórdia ao julgamento e, em todo o caso, o julgamento de Deus será sempre feito à luz da sua misericórdia. Por isso, oxalá o cruzamento da Porta Santa nos faça sentir participantes deste mistério de amor, de ternura. Ponhamos de lado qualquer forma de medo e temor, porque não se coaduna em quem é amado; vivamos, antes, a alegria do encontro com a graça que tudo transforma.
Hoje, e em todas as dioceses do mundo, ao cruzar a Porta Santa, queremos também recordar outra porta que, há cinquenta anos, os Padres do Concílio Vaticano II escancararam ao mundo. Esta efeméride não pode lembrar apenas a riqueza dos documentos emanados, que permitem verificar até aos nossos dias o grande progresso que se realizou na fé. Mas o Concílio foi também, e primariamente, um encontro; um verdadeiro encontro entre a Igreja e os homens do nosso tempo. Um encontro marcado pela força do Espírito que impelia a sua Igreja a sair dos baixios que por muitos anos a mantiveram fechada em si mesma, para retomar com entusiasmo o caminho missionário. Era a retomada de um percurso para ir ao encontro de cada homem no lugar onde vive: na sua cidade, na sua casa, no local de trabalho… em qualquer lugar onde houver uma pessoa, a Igreja é chamada a ir lá ter com ela, para lhe levar a alegria do Evangelho. Trata-se, pois, de um impulso missionário que, depois destas décadas, retomamos com a mesma força e o mesmo entusiasmo. O Jubileu exorta-nos a esta abertura e obriga-nos a não transcurar o espírito que surgiu do Vaticano II, o do Samaritano, como recordou o Beato Paulo VI na conclusão do Concílio. Atravessar hoje a Porta Santa compromete-nos a adotar a misericórdia do bom samaritano.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Do sonho à realidade...

"O grito do meu coração será, obrigada!"
(Beata Elisabeth da Trindade)
    
     As palavras parecem insuficientes para descrever a alegria que sentimos depois de tão longa espera... Foram muitos anos sonhando com a Ereção Canônica desta Comunidade de Irmãos, bem como com a aprovação de nossas Constituições.
     Foi no mês de Setembro, em que recordamos o dies natalis de Ir. Fernanda Marabello, ela que foi uma das primeiras italianas a iniciarem a missão aqui no Brasil; No dia 13 deste mesmo mês, dia mariano para o povo de Deus, vésperas da Festa da Exaltação da Santa Cruz quando recebemos - ainda não oficialmente - o anúncio de que a nossa Associação PRIVADA de Fieis Religiosos da Sagrada Face seria erigida como PÚBLICA, bem como seriam aprovadas, por tempo indeterminado, as nossas Constituições. Impossível não saltar de alegria por tão grande dom, a nós concedido pelo Senhor, através das mãos do nosso Pastor Dom José González Alonso. O sino tocou festivamente para anunciar a todos que "maravilhas o Senhor realizou em nosso favor" (cf. Lc 1, 49). Envolvidos pela liturgia que estávamos para celebrar, como não recordar as palavras de nossa Madre Inspiradora quando dizia: "As obras de Deus nascem à sombra da Cruz!" (Beata Maria Pia Mastena). Não a cruz de um derrotado, mas daquele que venceu, do Senhor Ressuscitado! Por isso, EXALTAÇÃO, porque por ela a morte foi vencida! E continua sendo vencida nos nossos dias, nas vitórias alcançadas, depois de um longo e doloroso percurso feito, com quedas e recomeços, mas sempre envolvidos pela esperança. Aquela mesma esperança que não faltou à Virgem da Piedade, padroeira da Diocese de Cajazeiras-PB que nos aprova e acolhe, de quem também fizemos memória logo após a Festa da Exaltação. Ela, como ninguém soube esperar, e colheu os frutos de tamanha espera. Mesmo sem entender tudo, mesmo com o coração transpassado de dor ao ver morrer na Cruz Aquele a quem ela mesma gerou em suas entranhas, por obra do Espírito Santo. Ela sabia que ali não era o fim, aquele não era o "ponto final" da História da Salvação... Havia um depois dalí, e por isso esperou de pé e com fé. Obrigado Maria, tu também nos ensinastes a esperar de pé e com fé e, hoje, colhemos os frutos desta espera, que também não é o fim, mas apenas o começo de um novo tempo!
     Oficialmente, no dia 16, em Cajazeiras-PB, na sede da Diocese, Dom José González reunido com alguns dos Irmãos e Irmãs proferiu a leitura do Decreto e concluiu invocando ao Deus fiel sua bênção e fidelidade para todos os Religiosos da Sagrada Face. As únicas palavras que podemos expressar são aquelas de gratidão e louvor:

- Te Deum laudamus, pelo Carisma e sonho profético da nossa Inspiradora, Maria Pia Mastena;

- Te Deum laudamus, porque nos chamastes para seguir-te;

- Te Deum laudamus, porque fizestes nascer para a Igreja, sob a proteção e cuidados de tua Mãe, a Virgem de Lourdes, esta pequena Comunidade fraterna;

- Te Deum laudamus, por tantos homens e mulheres que ajudaram e ajudam esta obra que é Tua, em especial as Religiosas da Sagrada Face, nas pessoas de Me. Tiziana Codello que com ousadia tornou concreto, em seu governo, o sonho da Bem-Aventurada Mastena, e Me. Annalisa Galli, nossa Moderadora Geral, que assumiu com muita responsabilidade a missão de primeira formadora da Comunidade nascente;

- Te Deum laudamus, por todos os que passaram por esta Comunidade, deixando um pouquinho de si mesmos para a construção desta história;

- Te Deum laudamus, por todos os consagrados desta Comunidade, sejam de votos simples ou perpétuos;

- Te Deum laudamus, por todos os formandos nas diversas etapas formativas que caminham rumo à Consagração;

- Te Deum laudamus, pelos dois primeiros Sacerdotes da Sagrada Face, que cotidianamente nos oferecem tua Face Eucarística;

- Te Deum laudamus, pela vida de Dom José González que nos acolheu em sua diocese como um verdadeiro Pai e Pastor;

- Te Deum laudamus, pela tão sonhada Ereção Canônica e aprovação por tempo indeterminado de nossas Constituições!

      Obrigado, Senhor! Este é de fato o grande grito do nosso coração: Obrigado! Quem em ti confia não será desamparado, pois, como nos afirma São Paulo na Carta aos Gálatas: "Com Deus não se brinca: cada um colherá aquilo que tiver semeado. Quem semeia na carne, da carne colherá [...], quem semeia no Espírito, do Espírito colherá [...]. Não nos cansemos de fazer o bem; se não desanimarmos, quando chegar o tempo, colheremos." (Gl 6, 7-9).

Dannilo Luiz Rocha Lira
Noviço dos Religiosos da Sagrada Face
Fortaleza-CE, 20 de setembro de 2015










Um novo tempo...

“Quem, nas várias circunstâncias da vida vê Jesus, vê o Pai celeste, será iluminado, será elevado à contemplação dos mais sublimes segredos de todos os mistérios de Deus.” (Bem Aventurada Maria Pia Mastena)

É com alegria que nós, Religiosos da Sagrada Face partilhamos esse momento feliz, da entrada de Alfredo Leonardo no tempo de Pré-Noviciado... Um tempo rico, de profundidade e encontro com o Senhor, que prepara para o belo tempo do Noviciado onde o formando é convidado a permanecer escondido na Face do Senhor. O próprio Leonardo, na sua carta-convite descreveu em um dos parágrafos o que este tempo representa para ele:

“Pré-noviciado, um tempo que me ajudará a refletir a caminhada feita até aqui e quais são as motivações que me levarão a continuar. Será um tempo curto, mas de profundidade sem igual, pois viverei esse tempo com o olhar voltado para o “Jardim das Oliveiras”, pois para entregar-se a ao Pai, Jesus se encontrou em profunda oração ao lado dos seus, e desse modo, para me encontrar com Jesus quando chegar o Noviciado - se for da vontade de Deus - quero desde já colocar-me nesse olhar, buscando sempre a força que nos renova da oração.” (Cajazeiras, 12 de setembro de 2015, Festa do Santíssimo Nome de Maria)

Neste tempo especial permaneceremos unidos em oração para que, no silêncio, o Senhor fale sempre ao seu coração... Bom caminho! Bom encontro com a Face de Jesus!

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Uma mulher forte

Hoje trazemos com grande alegria a memória do Dies Natalis de Irmã Maria Fernanda Marabello, missionária da Sagrada Face e que deixou plantado neste solo cajazeirense, uma história de amor pelos pobres, prediletos do Pai que transparecem o rosto de seu Filho Jesus Cristo.

Para ler a poesia em homenagem a Irmã Fernanda, click na imagem para abrir.

domingo, 23 de agosto de 2015

Ambientes Virtuais e

Vida Consagrada

     Se fizermos uma viagem ao passado, lá onde viveram os hominídeos (família da ordem dos primatas) perceberemos que os mesmos deram início ao que chamamos hoje de “vínculos humanos” ou socialização de pessoas. Criaram suas aldeias, formaram seus grupos, conheceram-se nessa troca de relações. Tal evolução humana propiciou vínculos mais estreitos, relações de vizinhanças ao ponto de podermos dizer que o homem descobriu ainda ali, a necessidade de conviver com outros de sua mesma espécie, de fazer amizades, de trocar afinidades. Contudo, o avanço não parou e, cada vez mais, tornou-se uma realidade humana com o grande aparecimento de novas tecnologias, com ferramentas multiformes que vieram possibilitar ainda mais o encontro de pessoas. O homem pós-moderno, neste tempo de cibercultura, é o homem da comunicação.

     A Vida Consagrada, chamada a ser nômade de Deus no árduo processo de idas e vindas, é desafiada a caminhar também sobre este grande terreno chamado “espaço virtual”. Um processo que requer maturidade, olhar atento e coração samaritano, semelhante àquele que, caminhando de Jerusalém a Jericó, deparou-se com o homem ferido pelos salteadores, sentiu compaixão e aproximou-se para tratar-lhe os ferimentos, não obstante às diferenças entre ambos. Esta parábola poderá nortear nossa reflexão.

     Como já falamos da evolução, tal evento trouxe para a vida do homem uma exaustiva carga de informações e propostas tentadoras que, por vezes, ultrapassam os muros dos conventos e casas paroquiais. Assim, é pertinente que prestemos a devida atenção, pois aqui, “existem aspectos problemáticos: a velocidade da informação supera a nossa capacidade de reflexão e discernimento, e não permite-nos fazer uma expressão equilibrada e correta de si mesma”.[1]

     Tantos meios interligados entre si, ao mesmo tempo, entram em contradição quando perdem os vínculos tradicionais, e aqueles que seguem conectados por um toque do dedo, ficam cada vez mais distantes do encontro pessoal. “O resultado dessa traição, isto é, a possível separação entre conexão e encontro, entre compartilhamento e relação, é aquela sugerida pelo título de um ensaio do psicanalista Luigi Zoja: La morte del prossimo (A morte do próximo)”.[2]

     O Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2014, já dizia que os meios de comunicação que hoje aproximam as pessoas, que vêm tornando cada vez menor o mundo, “deveria fazer-nos mais próximos uns dos outros”. Tal premissa vem perdendo a sua validade num mundo de grandes casos de isolamento e depressão, de pessoas trancafiadas em si mesmas, de pessoas seletivas, que conversam com quem mais lhes é convenientes.

    Vivemos uma crise de convivências físicas, pois o virtual tornou-se um mundo “quase verdadeiro” que tudo parece ser tão mágico, tão fácil de excluir ou incluir, de deletar ou de salvar, de bloquear ou de interagir. As escolhas são de fácil execução prática. Neste cenário virtual, a Vida Consagrada é convidada a viver a “mística do encontro” que o Papa Francisco já acenara no seu Magistério: “no nosso tempo, dominado pela comunicação pervasiva e global e, ao mesmo tempo, pela incapacidade de comunicar com autenticidade, a vida consagrada é chamada a ser sinal da possibilidade de relações humanas acolhedoras, transparentes, sinceras”.[3] Assim, a rede virtual para a Vida Consagrada não deverá ser apenas um instrumento de comunicação que se pode ou não usar, mas deve ser entendida como um “ambiente” onde acontece novas formas de educação e cultura, no qual seja possível estreitar os relacionamentos. Para Spadaro (2014, p.17) “é um modo de habitar o mundo e de organizá-lo”. Ver-se desse modo que o espaço na rede, vislumbrasse no modo como vivemos no espaço geográfico de carne e osso. É uma projeção bem verdadeira daquilo que, de fato, somos ou queremos fazer, “logo um ‘lugar’ específico dentro do qual se pode entrar em alguns momentos para viver online e do qual sair para entrar na vida off-line”.[4]

     Esse ambiente existe para nós. É fato! Agora, o modo como habitamos nele é que fará toda a diferença e nos transformará em pessoas melhores, mais próximas, acolhedoras, ao modo que o contrário também é possível, pois poderá nos distanciar dos outros pelo simples fato de preferir o grupo que quero interagir ou escolher, com quem devo fazer-me amigo, de tomada de escolhas (feitas muitas vezes sem maturidade).

     Tomemos mais uma vez a parábola do Bom Samaritano. Atentemos o nosso olhar para esta cena: vendo o pobre homem apanhado em dor, jogado ao chão, o Samaritano não apenas tornou-se próximo, mas cuidou das feridas. Neste caso, “não se trata de conhecer o outro como meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro”.[5] O Papa Francisco fazendo esta comparação com o que ele chama de “proximidade”, admoesta-nos para algo mais profundo: “Naquele tempo, eram condicionados pelas regras da pureza ritual. Hoje, corremos o risco de que alguns meios nos condicionem até o ponto de fazer-nos ignorar o nosso próximo real”.[6]

     Vemos que, o plano virtual, apresenta-nos aquilo que já há muito aprendemos ou estamos aprendendo no plano real, físico. A parábola aponta para uma alteridade mais sensível e realista, isto é, a certeza de que não estamos sozinhos no mundo e, o nosso “dedo”, quando acionado aos comandos virtuais, não pode manipular a tudo e a todos ao meu próprio gosto. Existe um “outro”, existe um grupo além de mim mesmo e que somente posso considerar-me “eu-individual” quando sou/estou para o outro, quando permito-me realizar um contato com o outro. Há uma relação de um-para-o-outro que torna-nos diferentes e arranca-nos do indiferentismo. Eis a proposta de Papa Francisco aos/às religiosos/as consagrados/as: proximidade e encontro. Segundo o religioso Papa, estas palavras fomentam a tarefa de despertar o mundo, de irmos ao encontro dos homens e mulheres hodiernos.

     Há uma linguagem cibernética que, se olhada de forma criteriosa, perceberemos que elas começam a “influir também no modo de pensar a fé cristã”. Spadaro diz em sua obra que, o homem agindo nesses espaços tecnológicos, na verdade estão vislumbrando-se “nos desejos que o ser humano sempre teve e aos quais procura satisfazer.”[7] A forma como me apresento no espaço virtual, é apenas uma sobra real daquilo que sou ou daquilo que almejo de mais preciso na vida quotidiana. Por isso, o/a consagrado/a deve perceber-se e sentir-se num estado de alteridade e nunca de individualismo, pois se assim não for, quebraria o sentimento de pertença à vida do outro – não para especular a vida alheia - , mas ser para o outro e viver com o outro todas as suas fases, quer de alegrias quer de dores, como no caminho de Emaús. Como Jesus com os discípulos, acolhamos na companhia diária as alegrias e as dores das pessoas, dando calor ao coração, enquanto esperamos com ternura os cansados e os fracos, a fim de que a caminhada comum tenha em Cristo luz e significado.[8]

     Estamos submergidos numa avalanche de novidades tecnológicas e de informação, “e nunca termina a lista da comunicação em tempo real e das informações exageradas que nos distraem do essencial e não nos fazem criar comunhão com ninguém, na verdade, fazem-nos viver no mundo virtual afastando-nos das relações fraternas”.[9] É o desafio que atravessamos e que, de forma especial, a juventude enfrenta. Os seminários e as casas de formação recebem agora rapazes e moças com uma mala a mais na bagagem, a que carrega um mundo inteiro na palma da mão, e que por isso, sentem-se na liberdade dar um enter quando querem, ou um delete quando o outro não condiz com meu perfil e, nesse sentido, o Magistério de Papa Francisco indica que, a Vida Consagrada assim como todo cristão, é chamada a ultrapassar as barreiras virtuais, criando relações humanas acolhedoras, transparentes e sinceras, sendo nômades das periferias, também virtuais.

     Por fim, para não alongar-me, pois a leitura longa é menos proveitosa e construtiva num tempo em que a tecnologia alcançou tal velocidade e singularidade. Não há tanta procura por textos longos, mas por imagens e frases soltas que estão em evidência nos dias atuais. Pretendo voltar com outras analogias, querendo sempre trazer a semelhança que há entre a tecnologia, os meios de comunicações de modo especial, os virtuais – nas suas linguagens -, com os sujeitos que vivem a nossa fé cristã, particularmente a Vida Consagrada.

     Que a Bem-Aventurada Madre Maria Pia Mastena, ajude-nos a preservarmos o nosso coração e a não desperdiçarmos nossa vocação inutilmente, mas gastá-la com algo que seja aperitivo à glória futura. Ela sempre quis que nossas casas, isto é, nossas comunidades da Sagrada Face, sejam verdadeiros “Centros de Reparação”. Façamos o mesmo com nossas “casas virtuais”, procurando também ali, sermos solidários e vermos o Rosto oculto de Jesus do outro lado do fio, do iPhone, qualquer que seja o aparato tecnológico, não apenas vermos, mas de sentirmos também suas dores e alegrias. Que assim seja!



[1] Francisco, Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro. Mensagem para o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais (2014).
[2] A. Spadaro, Ciberteologia Pensar o Cristianismos nos tempos da rede. Paulinas, São Paulo 2012, p. 62.
[3] PERSCRUTAI, n. 13
[4] A. Spadaro, Ciberteologia Pensar o Cristianismos nos tempos da rede. Paulinas, São Paulo 2012, p. 18.
[5] Francisco, Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro. Mensagem para o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais (2014).
[6] Idem
[7] A. Spadaro, Ciberteologia Pensar o Cristianismos nos tempos da rede. Paulinas, São Paulo 2012, p. 16.
[8] ALEGRAI-VOS, n. 10
[9] Madre Annalisa Galli, Carta dirigida à Congregação. Passalanotizia, n. 1, 2015.

Alfredo Leonardo Fernandes
Postulante

sábado, 8 de agosto de 2015

Ser Pai, um dom de Deus

Estamos na segunda semana de agosto, e evidenciamos a vocação familiar, berço da humanidade e canal de graça de todo ser vivente para o encontro com a Família de Nazaré: Jesus, Maria e José. O domingo, dia do Senhor, o Pai que tanto amou o mundo a ponto de entregar o seu Filho para o bem de todos, tem sua extensão na comemoração especial pelos nossos pais.
A vida com Deus é um reflexo da vida com nossos pais, que são, primícias de um encontro com a Família de Jesus. 
Um dia de oração pelos pais e de gratidão a Deus Pai porque nos dá a graça de possuirmos, já aqui na terra, um sinal do seu amor por nós, a ser plenificado na eternidade.