terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Refletindo...

Chorar faz bem (uma reflexão acerca do sofrimento)
Como entender o sofrimento numa lógica cristã?

Sofrimento..., palavra que expressa um sentimento de dor, de angustia, de desolação. Como entendê-la? Como conviver com ela? O que o sofrimento diz de mim mesmo? A esse respeito a “Salvifici Doloris” de João Paulo II diz que “O sofrimento parece ser, e é mesmo, quase inseparável da existência do homem.” (n.3) São Paulo escreve aos Colossenses que se alegra por sofrer por eles, pois irá completar em sua carne o que falta nos sofrimentos de Cristo. (Cf. Cl 1, 24) Muitos estudiosos da Palavra dizem que nada pode faltar ao sofrimento de Cristo, pois uma vez vencedor da morte e do pecado, nos deu a vida eterna. Na verdade o que Paulo parece se referir não é que a redenção de Cristo tenha sido imperfeita, mas ao que falta nele mesmo, isto é, como servo de Cristo, Paulo tem uma missão a cumprir, lhe resta completar plenamente em favor da Igreja e de Cristo. Assim, entendemos que todos nós temos uma missão, e o sofrimento muitas vezes pode ser encarado dessa forma, completando nossa carreira, nossa missão em favor de Cristo.

O Papa Francisco tem dito coisas interessantes sobre o sofrimento. Afinal, quem nos manda o sofrimento? Porque sofremos tanto? Ele não tem resposta pronta para tais perguntas, e acredito que ninguém tem. Mas em suas palavras ao povo simples e sofredores, tem nos ensinado algo de muita valia. Afinal, chorar é um ato humano e todos que se sentem desolados e profundamente questionados sobre a vida mesma, sente o desejo de chorar.

Certa manhã o Papa Francisco disse em sua homilia na Casa Santa Marta que “às vezes, na nossa vida, os óculos que precisamos para ver Jesus são as lágrimas.” Uma teoria um tanto desafiadora para os tempos modernos em que ninguém quer sofrer uma dor na unha. Francisco se referia ao Evangelho em que apresentava o encontro do Cristo ressuscitado com Maria Madalena, aquela que foi pega em pecado, mas perdoada porque muito amou e foi amada por Jesus. Ela chorou a morte de Jesus, encarou a derrota, o fracasso, a desilusão. O vigário de Cristo nos diz com isso que as lágrimas preparam nossos olhos para ver Jesus, assim como Madalena, encarando a dura realidade, questionando-se a si mesma.

Hoje em dia, vivemos um tempo de insuperável desmedida, isto é, ninguém aguenta passar por sofrimentos, seja o menor que for. Talvez isso seja fruto de uma sociedade descartável, que tudo dura muito pouco e quanto mais oportunidades de “vida boa” eu posso ter, mais eu corro para conseguir. Percebem-se as inconstâncias na família, quando as coisas não vão bem entre o casal, há a separação; quando as coisas não vão bem nos estudos, vem a desistência; quando as coisas não vão bem na saúde, vem o suicídio ou abandono da vida num estágio interminável de depressão; quando não me sinto confortável no seminário, desisto da minha vocação, ou ainda, fico pulando de galho em galho à procura de um local mais fácil, menos rígido, sem exigências. E as experiências são tantas..., tudo por que não queremos sofrer, ou porque não aprendemos a sofrer.

Mas, afinal, quem gosta de sofrer? Penso que não se trata disso, mas de fazermos um caminho de reflexão quanto ao sofrimento. Estes, muitas vezes vêm para nos ajudar a sermos mais fortes e mantermos a visão mais realista diante dos fatos da vida.

Mais uma vez o Papa Francisco se utiliza do termo “choro” para nos passar uma bela catequese. Ele respondeu a uma jovem durante sua viagem apostólica a Manila, nas Filipinas, uma pergunta desafiadora. Ela perguntou porque as crianças sofrem? O Pontífice não encontrou respostas, mas trouxe uma bela reflexão: Francisco disse que as pessoas precisam estar prontas para interrogar a si mesmas e muitas vezes aprender a chorar. Ele nos adverte e questiona a se referir da nossa “compaixão mundana”, aquela que inventamos como pena. Se Jesus, disse o Papa, tivesse agido por pena, teria feito poucos sinais e voltado para o Pai, hoje não nos lembraríamos dele, mas foi capaz de chorar para compreender, sentir a realidade que o circundava.

Um grande risco que corremos hoje é o esfriamento do coração e consequentemente a perda das lágrimas, pois não sentimos mais a dor do outro, passamos despercebidos com o sofrimento alheio. É preciso chorar também a dor dos irmãos e estar preparado para chorar nossas dores, que nos ajudam a ver as coisas na sua concretude.

Por fim, trago aqui palavras de Bento XVI que também respondeu a uma criança japonesa sobre o porquê das crianças sofrerem e sentirem tanto medo? A essa pergunta Bento XVI se utilizando de palavras acalentadoras, disse que não temos a resposta, mas que Jesus nos ama e estar do nosso lado. Ele disse que “um dia será possível compreender que os sofrimentos não foram em vão, vazios, mas que por trás deles há um projeto bom, de amor.”

Alfredo Leonardo
Postulante

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