Chorar faz
bem (uma
reflexão acerca do sofrimento)
Como entender o sofrimento numa lógica cristã?
Sofrimento..., palavra que expressa um
sentimento de dor, de angustia, de desolação. Como entendê-la? Como conviver
com ela? O que o sofrimento diz de mim mesmo? A esse respeito a “Salvifici Doloris” de João Paulo II diz
que “O sofrimento parece ser, e é mesmo,
quase inseparável da existência do homem.” (n.3) São Paulo escreve aos
Colossenses que se alegra por sofrer por eles, pois irá completar em sua carne
o que falta nos sofrimentos de Cristo. (Cf. Cl 1, 24) Muitos estudiosos da
Palavra dizem que nada pode faltar ao sofrimento de Cristo, pois uma vez
vencedor da morte e do pecado, nos deu a vida eterna. Na verdade o que Paulo parece
se referir não é que a redenção de Cristo tenha sido imperfeita, mas ao que
falta nele mesmo, isto é, como servo de Cristo, Paulo tem uma missão a cumprir,
lhe resta completar plenamente em favor da Igreja e de Cristo. Assim, entendemos
que todos nós temos uma missão, e o sofrimento muitas vezes pode ser encarado
dessa forma, completando nossa carreira, nossa missão em favor de Cristo.
O Papa Francisco tem dito coisas
interessantes sobre o sofrimento. Afinal, quem nos manda o sofrimento? Porque
sofremos tanto? Ele não tem resposta pronta para tais perguntas, e acredito que
ninguém tem. Mas em suas palavras ao povo simples e sofredores, tem nos
ensinado algo de muita valia. Afinal, chorar é um ato humano e todos que se
sentem desolados e profundamente questionados sobre a vida mesma, sente o
desejo de chorar.
Certa manhã o Papa Francisco disse em
sua homilia na Casa Santa Marta que “às
vezes, na nossa vida, os óculos que precisamos para ver Jesus são as lágrimas.”
Uma teoria um tanto desafiadora para os tempos modernos em que ninguém quer
sofrer uma dor na unha. Francisco se referia ao Evangelho em que apresentava o
encontro do Cristo ressuscitado com Maria Madalena, aquela que foi pega em
pecado, mas perdoada porque muito amou e foi amada por Jesus. Ela chorou a
morte de Jesus, encarou a derrota, o fracasso, a desilusão. O vigário de Cristo
nos diz com isso que as lágrimas preparam nossos olhos para ver Jesus, assim
como Madalena, encarando a dura realidade, questionando-se a si mesma.
Hoje em dia, vivemos um tempo de
insuperável desmedida, isto é, ninguém aguenta passar por sofrimentos, seja o menor
que for. Talvez isso seja fruto de uma sociedade descartável, que tudo dura
muito pouco e quanto mais oportunidades de “vida boa” eu posso ter, mais eu
corro para conseguir. Percebem-se as inconstâncias na família, quando as coisas
não vão bem entre o casal, há a separação; quando as coisas não vão bem nos
estudos, vem a desistência; quando as coisas não vão bem na saúde, vem o
suicídio ou abandono da vida num estágio interminável de depressão; quando não
me sinto confortável no seminário, desisto da minha vocação, ou ainda, fico
pulando de galho em galho à procura de um local mais fácil, menos rígido, sem
exigências. E as experiências são tantas..., tudo por que não queremos sofrer,
ou porque não aprendemos a sofrer.
Mas, afinal, quem gosta de sofrer?
Penso que não se trata disso, mas de fazermos um caminho de reflexão quanto ao
sofrimento. Estes, muitas vezes vêm para nos ajudar a sermos mais fortes e
mantermos a visão mais realista diante dos fatos da vida.
Mais uma vez o Papa Francisco se
utiliza do termo “choro” para nos passar uma bela catequese. Ele respondeu a
uma jovem durante sua viagem apostólica a Manila, nas Filipinas, uma pergunta
desafiadora. Ela perguntou porque as crianças sofrem? O Pontífice não encontrou
respostas, mas trouxe uma bela reflexão: Francisco disse que as pessoas
precisam estar prontas para interrogar a si mesmas e muitas vezes aprender a
chorar. Ele nos adverte e questiona a se referir da nossa “compaixão mundana”, aquela que
inventamos como pena. Se Jesus, disse o Papa, tivesse agido por pena, teria
feito poucos sinais e voltado para o Pai, hoje não nos lembraríamos dele, mas foi
capaz de chorar para compreender, sentir a realidade que o circundava.
Um grande risco que corremos hoje é o
esfriamento do coração e consequentemente a perda das lágrimas, pois não
sentimos mais a dor do outro, passamos despercebidos com o sofrimento alheio. É
preciso chorar também a dor dos irmãos e estar preparado para chorar nossas
dores, que nos ajudam a ver as coisas na sua concretude.
Por fim, trago aqui palavras de Bento
XVI que também respondeu a uma criança japonesa sobre o porquê das crianças
sofrerem e sentirem tanto medo? A essa pergunta Bento XVI se utilizando de
palavras acalentadoras, disse que não temos a resposta, mas que Jesus nos ama e
estar do nosso lado. Ele disse que “um dia será
possível compreender que os sofrimentos não foram em vão, vazios, mas que por
trás deles há um projeto bom, de amor.”
Alfredo Leonardo
Postulante
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