Religiosos da Sagrada Face
14 anos transbordando de amor...
A Gruta de Massabiele,
situada às margens do rio Gave, arredores da vila francesa de Lourdes, foi o
lugar escolhido pela Virgem para encontrar-se com a pequena Bernadette
Soubirous. A mãe que vem aos seus, a mãe que desce e, por que não dizer, que
faz Shekinah...
Era 11 de Fevereiro de 1858,
quando a Virgem, pela primeira vez, apareceu na gruta. Foram 18 aparições
consecutivas, das quais, duas merecem destaque. Estas se deram nos dias 24 e 25
de fevereiro de 1858 (8ª e 9ª aparições). Na primeira, Maria revela a
Bernadette sua mensagem e faz-lhe um convite: “Penitência, penitência,
penitência! Rogai a Deus pelos pecadores”. Na segunda, ensina-lhe como
colocá-la em prática (a penitência): “Vá e tome da água da fonte e lave-se
nela”. Pediu-lhe ainda outra coisa aparentemente absurda e humilhante: Comer
umas ervas que cresciam na gruta. Por que absurdas? Porque além de comer capim,
a criança teria de beber e banhar-se numa fonte que não existia no local, pelo
menos não aos olhos de Bernadette e dos presentes... A menina, cumprindo o que
lhe fora pedido, dirige-se ao Rio Gave para banhar-se, mas a Virgem adverte-a:
“Aí não Bernadette, na fonte!” E ela retornando à gruta, interiormente
impulsionada, inclina-se por terra, come a erva recomendada e escava com as
mãos o chão da gruta de onde brotou água, da qual ela bebeu e lavou-se. Enquanto sucediam-se os fatos, os presentes
comentavam entre si se Bernadette não estaria louca.
Junto ao local, tocado pelos
pés da Virgem Imaculada, brotou um manancial de águas prodigiosas. A fonte de
Lourdes, como ficou conhecida, tornou-se para o povo um local de graças
contínuas e cura das doenças físicas e espirituais.
Recordamos aqui, outro acontecimento
importante, providencialmente iniciado em 11 de fevereiro, não mais de 1858,
mas no ano 2000. Não mais em Massabielle na França, mas em Fortaleza, Brasil. Aqui,
sob a poderosa proteção da Virgem de Lourdes, Mãe de Deus e nossa, uma nova
fonte nascia no terreno também pisado (espiritualmente) por ela e maternalmente
preparado para o início desta nova obra que, como aquela fonte de Lourdes,
deveria igualmente jorrar para saciar a sede física e espiritual de tantos
irmãos e irmãs. Esta nova fonte chamada de Religiosos
da Sagrada Face (RSF), nasce pequenina e frágil como aquela de Massabiele,
porém cheia de força e vigor, pois nasce do Coração de Deus e passa pela ternura
da Mãe, uma vez que ela muito entende de água, pois conhece a sede dos seus
filhos e sabe a quem recorrer quando nada pode fazer. Recordemos um fato: “Então a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não
tem mais vinho’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Que queres de mim Mulher? Minha hora
ainda não chegou’. Sua mãe disse aos serventes: ‘Fazei tudo o que ele vos
disser’. Havia ali seis talhas de pedra [...] Jesus lhes disse: ‘enchei as
talhas de água’. Eles as encheram até a borda.” (Lc 2, 3b-7). Os acontecimentos
que sucedem este trecho nos são conhecidos. A água transforma-se em vinho. A
pedido da mãe, o que estava seco, agora cheio, passando pelas mãos do Senhor
transforma-se em motivos de alegria e louvor.
Essa nova fonte (RSF), não
quer ser outra coisa senão esse lugar no qual todos possam ‘encher-se’. Vale dizer
que o mais importante não é a fonte, mas o ‘estar cheio’ e o que Jesus fará com
o que foi enchido... Com essa certeza, buscamos afastar de nós (RSF) todo
orgulho e pretensão de nos sentirmos os responsáveis, pois somos antes
instrumentos inúteis, através dos quais Deus torna visíveis os sinais do seu Reino
de Amor. O que vem depois da passagem pela fonte é o que importa. O mais
importante é chegar ‘cheio’ até Jesus, pois Ele quem faz e transforma. Somente
ele! A fonte deve ser apenas o lugar da passagem, o lugar do socorro: “Ah! Todos que tendes sede, vinde à água.”
(Is 55, 1). Esta fonte quer ser o lugar provisório que conduz a outra água,
a Água Viva: “Aquele que bebe desta água
terá sede novamente; mas quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá
sede. (Jo 4, 13-14a).
A temática da água está muito presente
nas Sagradas Escrituras, desde o Gênesis, logo nos primeiros versículos encontramos
que “o Espírito de Deus pairava sobre as
águas” (Gn 1, 2). São inúmeras as passagens que apresentam a água em diferentes
contextos, ora como sinal de destruição: “Vou
enviar o dilúvio, as águas, sobre a terra, para exterminar de debaixo do céu toda
carne que tiver sopro de vida: tudo o que há na terra deve perecer”. (Gn 6,
17); ora como sinal de libertação: “Moisés
estendeu a mão sobre o mar, e o Senhor fez o mar se retirar com um forte vento
oriental que soprou toda a noite; o mar ficou seco e as águas se dividiram em
duas. Os israelitas entraram pelo mar a pé enxuto, e as águas formaram uma
muralha à direita e à esquerda. (Ex 14, 21-22); ora como sinal de vida: “porque brotou água no deserto, torrentes na
estepe, a terra seca será um brejo, a terra árida um manancial, a erva será
caniços e juncos no covil onde se deitavam os chacais” (Is 35, 6-7); e no
Novo Testamento, não muito diferente, a água também apresenta-se em diferentes
situações, dentre estas, como sinal de cura: “Vai lavar-te na piscina
de Siloé”. (Jo 9,7). Esse
pedido de Jesus ao cego de nascença, semelhante àquele da Virgem à Bernadette
bem como tantas outras situações em que esta água foi sinal da presença de Deus
na vida do seu povo, seja para nós uma
grande motivação de permanecermos transbordantes, (como fontes ou piscinas
cheias: ‘Siloés’, mares abertos, talhas repletas...) para que, os que por nós
passarem, sintam-se revigorados para continuarem a caminhada, rumo à Sagrada
Face d’Aquele que unicamente poderá dizer-nos: “Pois a água que eu lhe der, tornar-se-á [...] uma fonte de água
jorrando para a vida eterna” (Jo 4, 13-14b). Jesus mesmo é esta fonte, do
seu lado transpassado “saiu sangue e
água” (Jo 19, 34). Eis a Fonte que
alimenta todas as fontes. Não nos cansemos de nela nos reabastecermos!
Ave do Mar estrela, a ti recorremos nestes 14 anos suplicando a graça de
permanecermos cheios, como tu foste “Cheia”, mas não cheios das coisas que
passam, das coisas terrestres, mas das coisas eternas, cheios da Graça. Com
estas antiguíssimas aclamações de São Germano, saudamos-te: “Ave, tu que fazes correr rios copiosos;
Ave, imagem viva da água do batismo; Ave, tu que lavas as manchas do pecado;
Ave, esposa inviolada!” Rogai por nós!
Dannilo Luiz Rocha
Noviço dos R. Sagrada Face
Fortaleza-CE
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