terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Uma nova fonte nascida aos pés da Virgem:

Religiosos da Sagrada Face
14 anos transbordando de amor...

A Gruta de Massabiele, situada às margens do rio Gave, arredores da vila francesa de Lourdes, foi o lugar escolhido pela Virgem para encontrar-se com a pequena Bernadette Soubirous. A mãe que vem aos seus, a mãe que desce e, por que não dizer, que faz Shekinah...
Era 11 de Fevereiro de 1858, quando a Virgem, pela primeira vez, apareceu na gruta. Foram 18 aparições consecutivas, das quais, duas merecem destaque. Estas se deram nos dias 24 e 25 de fevereiro de 1858 (8ª e 9ª aparições). Na primeira, Maria revela a Bernadette sua mensagem e faz-lhe um convite: “Penitência, penitência, penitência! Rogai a Deus pelos pecadores”. Na segunda, ensina-lhe como colocá-la em prática (a penitência): “Vá e tome da água da fonte e lave-se nela”. Pediu-lhe ainda outra coisa aparentemente absurda e humilhante: Comer umas ervas que cresciam na gruta. Por que absurdas? Porque além de comer capim, a criança teria de beber e banhar-se numa fonte que não existia no local, pelo menos não aos olhos de Bernadette e dos presentes... A menina, cumprindo o que lhe fora pedido, dirige-se ao Rio Gave para banhar-se, mas a Virgem adverte-a: “Aí não Bernadette, na fonte!” E ela retornando à gruta, interiormente impulsionada, inclina-se por terra, come a erva recomendada e escava com as mãos o chão da gruta de onde brotou água, da qual ela bebeu e lavou-se.  Enquanto sucediam-se os fatos, os presentes comentavam entre si se Bernadette não estaria louca.
Junto ao local, tocado pelos pés da Virgem Imaculada, brotou um manancial de águas prodigiosas. A fonte de Lourdes, como ficou conhecida, tornou-se para o povo um local de graças contínuas e cura das doenças físicas e espirituais.
Recordamos aqui, outro acontecimento importante, providencialmente iniciado em 11 de fevereiro, não mais de 1858, mas no ano 2000. Não mais em Massabielle na França, mas em Fortaleza, Brasil. Aqui, sob a poderosa proteção da Virgem de Lourdes, Mãe de Deus e nossa, uma nova fonte nascia no terreno também pisado (espiritualmente) por ela e maternalmente preparado para o início desta nova obra que, como aquela fonte de Lourdes, deveria igualmente jorrar para saciar a sede física e espiritual de tantos irmãos e irmãs. Esta nova fonte chamada de Religiosos da Sagrada Face (RSF), nasce pequenina e frágil como aquela de Massabiele, porém cheia de força e vigor, pois nasce do Coração de Deus e passa pela ternura da Mãe, uma vez que ela muito entende de água, pois conhece a sede dos seus filhos e sabe a quem recorrer quando nada pode fazer. Recordemos um fato: “Então a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não tem mais vinho’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Que queres de mim Mulher? Minha hora ainda não chegou’. Sua mãe disse aos serventes: ‘Fazei tudo o que ele vos disser’. Havia ali seis talhas de pedra [...] Jesus lhes disse: ‘enchei as talhas de água’. Eles as encheram até a borda.” (Lc 2, 3b-7). Os acontecimentos que sucedem este trecho nos são conhecidos. A água transforma-se em vinho. A pedido da mãe, o que estava seco, agora cheio, passando pelas mãos do Senhor transforma-se em motivos de alegria e louvor.
Essa nova fonte (RSF), não quer ser outra coisa senão esse lugar no qual todos possam ‘encher-se’. Vale dizer que o mais importante não é a fonte, mas o ‘estar cheio’ e o que Jesus fará com o que foi enchido... Com essa certeza, buscamos afastar de nós (RSF) todo orgulho e pretensão de nos sentirmos os responsáveis, pois somos antes instrumentos inúteis, através dos quais Deus torna visíveis os sinais do seu Reino de Amor. O que vem depois da passagem pela fonte é o que importa. O mais importante é chegar ‘cheio’ até Jesus, pois Ele quem faz e transforma. Somente ele! A fonte deve ser apenas o lugar da passagem, o lugar do socorro: “Ah! Todos que tendes sede, vinde à água.” (Is 55, 1). Esta fonte quer ser o lugar provisório que conduz a outra água, a Água Viva: “Aquele que bebe desta água terá sede novamente; mas quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá sede. (Jo 4, 13-14a).
A temática da água está muito presente nas Sagradas Escrituras, desde o Gênesis, logo nos primeiros versículos encontramos que “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1, 2). São inúmeras as passagens que apresentam a água em diferentes contextos, ora como sinal de destruição: “Vou enviar o dilúvio, as águas, sobre a terra, para exterminar de debaixo do céu toda carne que tiver sopro de vida: tudo o que há na terra deve perecer”. (Gn 6, 17); ora como sinal de libertação: “Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o Senhor fez o mar se retirar com um forte vento oriental que soprou toda a noite; o mar ficou seco e as águas se dividiram em duas. Os israelitas entraram pelo mar a pé enxuto, e as águas formaram uma muralha à direita e à esquerda. (Ex 14, 21-22); ora como sinal de vida: “porque brotou água no deserto, torrentes na estepe, a terra seca será um brejo, a terra árida um manancial, a erva será caniços e juncos no covil onde se deitavam os chacais” (Is 35, 6-7); e no Novo Testamento, não muito diferente, a água também apresenta-se em diferentes situações, dentre estas, como sinal de cura: “Vai lavar-te na piscina de Siloé”. (Jo 9,7). Esse pedido de Jesus ao cego de nascença, semelhante àquele da Virgem à Bernadette bem como tantas outras situações em que esta água foi sinal da presença de Deus na vida do seu povo,  seja para nós uma grande motivação de permanecermos transbordantes, (como fontes ou piscinas cheias: ‘Siloés’, mares abertos, talhas repletas...) para que, os que por nós passarem, sintam-se revigorados para continuarem a caminhada, rumo à Sagrada Face d’Aquele que unicamente poderá dizer-nos: “Pois a água que eu lhe der, tornar-se-á [...] uma fonte de água jorrando para a vida eterna” (Jo 4, 13-14b). Jesus mesmo é esta fonte, do seu lado transpassado “saiu sangue e água” (Jo 19, 34). Eis a  Fonte que alimenta todas as fontes. Não nos cansemos de nela nos reabastecermos!
Ave do Mar estrela, a ti recorremos nestes 14 anos suplicando a graça de permanecermos cheios, como tu foste “Cheia”, mas não cheios das coisas que passam, das coisas terrestres, mas das coisas eternas, cheios da Graça. Com estas antiguíssimas aclamações de São Germano, saudamos-te: “Ave, tu que fazes correr rios copiosos; Ave, imagem viva da água do batismo; Ave, tu que lavas as manchas do pecado; Ave, esposa inviolada!” Rogai por nós!

Dannilo Luiz Rocha
Noviço dos R. Sagrada Face
Fortaleza-CE

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