“Pois,
quem é o maior: quem está à mesa ou quem ou quem está servindo? Não é aquele
que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vocês como aquele que serve” (Lc
22, 27)
Iniciando este tempo de graça que é o Tríduo
Pascal, nele fazemos mais intensamente, memória da Paixão, Morte e Ressurreição
do Senhor. É interessante como Jesus inicia este percurso de Cruz e Luz com um
gesto desconcertante, incomum, e por que não dizer, inesperado.
Jesus sabia que sua hora era chegada, e nós
sabemos, que as “últimas horas” de uma pessoa (quando esta têm consciência de
que sua vida terrena está chegando ao fim) são marcadas de muita profundidade e
de essencialidade, não há tempo a perder... E Jesus não perde tempo! Na última
refeição ele quis deixar um legado aos seus discípulos e a sua Igreja. O legado
do SERVIÇO, fazendo questão de ressaltar: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei
os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para
que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13, 14-15).
Neste itinerário serviçal, deixado a nós pelo
Senhor, ajude-nos Mastena, a mulher do serviço que tendo escutado estas
palavras do seu Esposo: “...também vós deveis lavar os pés uns
dos outros” (Jo 13, 14), imitou
na vida esses gestos, tão desconcertantes e de uma kenosis profunda. Salve Mastena, mulher do
lava-pés, mulher que fez nascer na Igreja um carisma serviçal, mulher que,
tendo cingindo-se com o avental, fez sorrir no rosto de tantos irmãos a Face
sofrida de Jesus que espera de nós reparação e amor. Acompanhemos com os olhos
da fé estes gestos que ainda hoje nos desconcertam:
- Jesus
levantou-se da mesa... O que significa para nós “levantar-se”?
Nem sempre é fácil levantar, mais fácil é permanecer sentados, no nosso
comodismo, nas nossas seguranças. Levantar é dinamismo! Jesus é dinâmico e
nossa fundadora (inspiradora) também, quantas vezes não levantou madre Mastena
e não me refiro apenas a um estar de pé, pois isso todos fazemos com
facilidade, mas refiro-me a um estar disponível. Madre Mastena escutou e
entendeu o convite do Cântico dos cânticos: “Levanta-te,
minha amiga, minha formosa, e vem! Eis que o inverno já passou, cessaram as
chuvas e se foram. Da figueira brotam os primeiros figos, exalam perfume as
videiras em flor” (Ct 2, 10-11.13).
- Jesus
tirou o manto... Tirar o manto não é fácil, pois requer
desapego. Desapego de tudo o que atrapalha principalmente do status que é próprio das “vestes” que
todos os dias colocamos para esconder quem somos. Para servir, precisamos
despojar-nos de nossas certezas. Quantas vezes Mastena também despojou-se,
deixou de lado as suas vestes? Diante de tantas calúnias quantas vezes
inclinou-se deixando de lado suas certezas e confiou em Deus. Foram tantas as
vezes que retirou o manto, não o que cobria o corpo, mas o que cobria os olhos,
a “venda de pano” que não permitia que Jesus fosse enxergado nos irmãos.
- Jesus
tomou uma toalha... Tomar a toalha é ter consciência dos meios
que se deve usar para alcançar a finalidade desejada. Quais os meios que usamos
para o nosso serviço? Já nos acostumamos com a missão ao ponto de realizá-la de
qualquer jeito, ou temos a consciência que cada missão tem seus meios e se
queremos alcançar um resultado temos de buscá-los? Madre Mastena, quando o
assunto era servir, foi uma mulher incansável que buscava tudo que estivesse ao
seu alcance para não ver os irmão sofrerem, pois sabia ela que ali estava
Jesus. Até mesmo os poderosos ela
enfrentava nos períodos de guerra para não ver sofrer seus pequeninos. Uma
mulher que na vida tomou tantas toalhas...
- Jesus
cingiu-se com a toalha... Cingir-se é estar em constante estado
de vigilância. Não podemos nos cansar de servir e estar cingido nos ajuda a
recordar do nosso compromisso com Deus, com sua Igreja e com o seu povo.
Mastena sabia disso, virgem prudente e cingida! Sempre com a lâmpada acessa e
atenta às necessidades dos outros. Esquecia até mesmo de si para que o outro
fosse amado e lembrado. Não faltou óleo em sua lâmpada, não faltou toalha na
cintura, não faltou disponibilidade e amor.
- Jesus
derramou água na bacia... O que estamos derramando em nossas
bacias? De quê estão cheias? Jesus não derrama simplesmente água, mas muito
amor, pois sem este era impossível a realização deste gesto serviçal. Como
compreender, sem o amor, um mestre que se levanta, que tira o manto, que toma
uma toalha e cinge-se com ela e depois enche uma bacia de água, certamente a
esta altura os discípulos já imaginavam o que estava por vir e por isso deviam
estar surpresos. Só o amor mesmo é capaz de explicar tal gesto. Madre Mastena
também foi mestra nisso, sabia como, quando e de quê “encher a bacia”. Recordo-me
de um fato em que ela manda irmãs irem na horta colherem as melhores hortaliças
para enviar à casa paroquial de um padre que não a aceitava muito e que por
isso a perseguia. Como entender tal gesto sem o amor? Somente quem tem a bacia
cheia de amor que o deixa transbordar!
- Jesus
pôs-se a lavar os pés dos discípulos... Quanta humildade! Me
surpreende esta atitude de Jesus, fez-se escravo, servo, pois não era este o
papel do Mestre. Quantas vezes estamos presos em nossos papéis, nos títulos que
conquistamos e não queremos descer... E Deus desceu quando se fez carne e
tantas outras vezes a Palavra nos revela um Deus que desce. Recordo-me a
passagem da pecadora pública pega em adultério, todos a condenavam de pé e
amparados pela lei de então, e Jesus se faz um com ela e inclina-se, Jesus
desce a ama-a. Esse amor mudou a vida daquela mulher... Quantas vidas seriam
mudadas a começar da nossa se aprendêssemos a descer. Madre Mastena desceu...
Nunca buscou privilégios! Motivos tinha de sobra, mas nunca os quis. Foi a
mulher do lava pés que fez sorrir o Rosto de Jesus. Na vida não fez outra coisa
senão servir.
- Jesus
enxuga os pés com a toalha... Não podemos parar na metade
do serviço, às vezes nos empolgamos com algo e começamos a todo vapor e com
todo entusiasmo, mas quando as coisas vão ficando difíceis vamos desanimando e
deixando de lado. Jesus nos ensina a assumir a missão o serviço até a última
conseqüência, mesmo que nos custe. Mastena também nos ensina isso. Não basta
apenas lavar, retirar a sujeira... é preciso devolver à pessoa a sua dignidade.
Fazer sorrir a Face de Jesus na face do irmão é não parar no caminho, é seguir
na certeza de que estamos cumprindo a nossa missão, lavando os pés, mas também
secando-os.
Para nós, Família Religiosa da Sagrada Face,
que abraçamos o carisma deixado por nossa Fundadora/Inspiradora, uma certeza
nos resta: “Propagar, Reparar e Restabelecer”, não é outra coisa senão, lavar
os pés dos irmãos. É esta a missão que o Senhor nos confia, a nós que somos
seus amigos, discípulos missionários, e isso nos fará verdadeiramente felizes,
pois “Felizes os escravos que o senhor
achar vigiando. Eu vos asseguro: Ele cingirá o avental, fará com que se ponham
à mesa e os servirá. Se chegar à meia noite ou às três da madrugada, e assim os
encontrar, felizes serão eles!” (Lc 12, 37-38).
Que nestes dias o Senhor do serviço, por
intercessão da discípula do serviço (Mastena) nos conceda a graça de descer
sempre, pois o maior de todos fez-se o menor para nos dar o exemplo! Que Deus nos abençoe!
Dannilo Luiz
Noviço dos Religiosos da S. Face
Fortaleza-CE
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