Hoje celebramos a “Festa da Misericórdia”, festa instituída pelo próprio Jesus quando, na clausura de um Convento, o Senhor se digna aparecer a uma religiosa simples de nome Faustina Kowalska revelando-lhe a sua vontade: “Eu desejo que haja a Festa da Misericórdia. Quero que essa Imagem, que pintarás com o pincel, seja benzida solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia” (Diário, 49; cf. 88; 280; 299b; 458; 742; 1048; 1517).
Jesus quis precisar desta pequena serva para
expressar a toda humanidade o seu amor misericordioso, assim também Ele o faz
conosco. É seu desejo que sejamos apóstolos da Misericórdia: “Na
Minha festa, na Festa da Misericórdia, percorrerás o mundo inteiro e trarás as
almas que desfalecem à fonte da Minha misericórdia. Eu as curarei e
fortalecerei” (D. 206).
A palavra MISERICÓRDIA (no grego: éleos; no
hebraico: Hesed) tem origem latina e é formada pela junção de duas palavras: miserere (ter compaixão) e cordis (coração), em outras palavras
podemos dizer que MISERICÓRDIA é uma “Ação do Coração”. Na Festa de hoje
recordamos e celebramos justamente isso: a ação misericordiosa do Coração de
Jesus por toda humanidade. Ele mesmo afirmou isso quando em uma das aparições a
Santa Faustina, revelou-se, como vemos na Imagem, com o coração aberto: “Essa
Festa saiu do mais íntimo da Minha misericórdia e está aprovada nas profundezas
da Minha compaixão. Toda alma que crê e confia na Minha misericórdia irá
alcançá-la” (D. 420; cf. 1042; 1073).
Imagem pintada segundo descrições de S. Faustina |
Nós, Família Religiosa da Sagrada Face, somos
convidados a sermos Apóstolos da Divina Misericórdia. A bem-aventurada Maria
Pia Mastena entendeu isso. Ela sabia que não se podia separar a devoção à
Sagrada Face da devoção ao Sagrado Coração, por isso que inúmeras vezes ela, em
seus escritos, dirige-se a este Coração. Mastena sabia que aquilo que
expressamos no rosto é o que brota do mais profundo do nosso ser e com Jesus
não podia ser diferente. A sua Santíssima Face era uma expressão viva dos
sentimentos mais profundos do seu Santíssimo Coração. Essa certeza fazia com
que Mastena desejasse ardentemente permanecer unida ao Coração de Jesus: “Unir-se
coração a Coração com Jesus. Viver ao lado de Jesus... E Jesus viva em mim,
sempre em mim... Sempre em meu coração!”. As chamas deste Coração eram
para Mastena seguro refúgio, lugar de purificação, e altar onde ela mesma se
oferecia inteiramente para a salvação da humanidade: “Permanecer fechada naquele
amabilíssimo Coração, tenho intenção de oferecer a cada instante, tantas vezes
quantos são os instantes que constituem a eternidade, o meu coração, o meu corpo,
o meu espírito, a minha vontade, colocando tudo entre as ardentíssimas chamas
daquele Divino Coração, para que tudo seja imolado para a sua glória e pela
salvação do mundo...”.
O amor por Jesus era para Mastena combustível
que a impulsionava para a humildade e não reconhecimento nas obras caridade,
que a motivava nas dificuldades encorajando-a a não desistir nos pequenos
fracassos cotidianos, mas antes de tudo oferecê-los a Jesus em reparação da
tibieza de tantas almas: “Mortificar o desejo do reconhecimento nas
obras de caridade é sofrer em união com o Sacratíssimo Coração de Jesus,
tratado com tanta ingratidão, toda desatenção que, infelizmente, quase sempre
aparecem depois de uma obra de bem”. O seu amor ao Coração de Jesus não
era um amor egoísta. Não queria ela esse amor apenas para si mesma, era seu
desejo que também outras almas fizessem a mesma experiência transformadora, por
isso afirmava com tanto fervor: “Jesus meu, eu te amo... Amo-te! E, ao
pronunciar estas palavras, queria que o meu coração ficasse inflamado, destruído
pelo teu divino fogo. Queria que todos os corações ficassem envolvidos entre as
chamas do teu Amor!”.
Sejamos Apóstolos desse Amor, façamos nossa a
missão confiada por Jesus a Santa Faustina: “A tua tarefa e obrigação é pedir aqui
na Terra a misericórdia para o mundo inteiro. Nenhuma alma terá justificação,
enquanto não se dirigir, com confiança, à Minha misericórdia.” (D. 570); “Desejo
que a Festa da Misericórdia seja refúgio e abrigo para todas as almas,
especialmente para os pecadores. Neste dia, estão abertas as entranhas da Minha
misericórdia. Derramo todo um mar de graças sobre as almas que se aproximam da
fonte da Minha misericórdia. [...] Que nenhuma alma tenha medo de se aproximar
de Mim, ainda que seus pecados sejam como o escarlate. A Minha misericórdia é
tão grande que, por toda a eternidade, nenhuma mente, nem humana, nem angélica
a aprofundará. Tudo o que existe saiu das entranhas da Minha misericórdia.” (D. 699).
Olhemos para a Face de Jesus na cruz, cuja expressão é de profunda dor...
desçamos o nosso olhar e contemplemos o lado aberto pela lança, o Coração
transpassado do qual jorrou sangue e água. Face e Coração... Expressão externa
e interna desse amor misericordioso! Corramos à fonte e saciemos a nossa sede
de amor, e com Madre Mastena exclamemos: “Beber, beber continuamente lá, na fonte
do divino amor. Inebriada pelo precioso vinho que germina as virgens, sacia na
fonte da imaculada pureza, como não correr sobre as pegadas do Esposo Divino, seguindo-O...
em tudo? Ó Jesus dá-me, dá-me do teu vinho; dá-me a água puríssima que jorra do
Teu Coração transpassado!”
“Ó sangue e água que
jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em
vós!”
Noviço Dannilo Luiz Rocha
Religiosos da S. Face