A
Espiritualidade do Avental, inicialmente é uma espiritualidade da prática, da
ação em favor do outro independentemente de sua posição social, racial,
econômica etc. Para nós hoje, soa-nos como um convite ao serviço alegre, comprometido
e incondicional aos irmãos e irmãs que encontrarmos em nosso caminho. Particularmente,
acreditamos que seja uma necessidade de investirmos em tal espiritualidade, já
que esta dispensa muito falatório e exige mais ação. É indispensável, porém, dizer que para
assumir esta espiritualidade faz-se necessário que sejam quebrados alguns dos
paradigmas vigentes de nossa sociedade civil e religiosa.
Vivemos em uma sociedade profundamente
marcada pela hierarquia, pelo preconceito, pelos títulos, pelas posições, pela
lei do mais forte, pelas funções e outras coisas mais que se colocam acima do
homem. Estas nos impedem de Servir evangélica e qualitativamente aos irmãos. Ou, por vezes, o nosso serviço é como uma
espécie de fachada, até servimos àqueles que são donos de nossas preferências e
àqueles com os quais queremos manter as posições.
A espiritualidade do avental em
Jesus é completamente diferente daquela que dizemos também assumir; Jesus para
assumi-la teve de despojar-se de tudo aquilo que poderia lhe atrapalhar: as
preferências humanas, a hierarquia de sua época, a posição que ocupava e a
função que exercia entre os discípulos. O despojamento de Jesus Cristo foi tão
forte que sendo ele o “Mestre”, e sua função seria ensinar, ordenar, talvez até
lutar para manter sua posição, mas não fez, invés se colocou como servidor em
primeiro lugar.
Essa espiritualidade, fundamentada na
atitude “heroica” de Jesus, nos aparece de forma gritante pedindo-nos de
sairmos de nosso comodismo para lavar os pés daqueles que precisam recuperar
sua dignidade e valor de pessoa humana. A mesma precisa se encarnar no hoje da
história para revelar ao mundo o amor misericordioso de Deus, que ama a
humanidade com um amor não movido por preferências, mas pela gratuidade. Esse
também deve ser o nosso amor para com aqueles que lavamos os pés.
O convite hoje é para nós
continuarmos pondo em prática a espiritualidade do avental. Para isso, tomemos como
ponto de partida e exemplo, o próprio Cristo que invertendo os valores da época,
como Mestre, põe-se a serviço de “todos”. Lavar os pés de nossos irmãos e irmãs
é também revelar-lhes todo o nosso amor gratuito, solidário, eficaz e livre dos
impedimentos humanos. É com esta atitude que Jesus quer ensinar aos seus a
manterem uma postura constante de serviço, de doação e acima de tudo, de
humildade, pois o reino dos Céus é daqueles que são pequenos.
Esse gesto “simples”, porém
carregado de muitos significados serve para confirmar aquilo que o mestre havia
ensinado aos discípulos durante toda a vida em que esteve com eles. Era como
que uma recordação de todo o ensinamento e ao mesmo tempo um reforço para dizer
que no final, o que conta é o serviço. Entre os tantos significados desse
gesto, podemos destacar alguns:
- Não
podemos viver como uma fachada a nossa adesão por Cristo e pelo reino, esta
precisa ser empenhativa;
- O
serviço é que vai medir a qualidade e a concretude de nossa adesão;
- Sem
serviço não há seguimento verdadeiro do Mestre;
- As
palavras precisam está intimamente ligadas aos atos, estes devem ser uma
confirmação daquilo que é dito;
- Todos
precisam exercer a sua responsabilidade pela construção do reino e pelo bem
comum;
- O serviço é característico de quem
ama, logo, amor revela-se também nas atitudes concretas...
Poderíamos ainda extrair outros
significados deste magnífico exemplo que nos foi dado por Jesus Cristo, mas
para não nos determos em tantos detalhes que podem ser desnecessários, optamos
por escolher aqueles que consideramos mais significativos.
Ressaltemos
ainda que a espiritualidade do avental tem uma profunda ligação com o nosso
carisma “masteniano” que visa restituir na pessoa do outro, a imagem da Sagrada
Face de Jesus Cristo. Para atingir esse fim, faz-se também necessário muitas
vezes lavar os pés daqueles que são destinatários de nossa missão, (sobretudo a
comunidade que fazemos parte), seja por meio de uma formação humano-religiosa,
de nossa presença entre os excluídos da sociedade, do anúncio da Boa Nova
àqueles que não têm mais esperança, de uma assimilação concreta do serviço
evangélico (a exemplo de Jesus). Em outras palavras, pode-se dizer que viver o
carisma da Sagrada Face na radicalidade é também viver a espiritualidade do
avental, pois a vivência do nosso carisma convida-nos a servirmos a Jesus na pessoa
do irmão.
Francisco Josimar Chaves
Noviço dos Religiosos da S. Face
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