A
Igreja é rica em simbologia – não no sentido supérfluo da palavra, mas
mistagógico -, isto é, repleto de um mistério que enche o nosso coração de
espanto e alegria. Foi assim com os soldados que vigiavam o corpo de Jesus, foi
assim com Maria Madalena e a outra Maria, foi assim com o discípulo amado e com
Pedro e foi assim com os primeiros cristãos que se seguiram a partir da sua
ressurreição. Espanto e alegria. Que atitude me encheria o coração se eu não
conhecesse as Sagradas Escrituras que narram a história da humanidade e da sua
redenção pela opção salvífica do Cristo? Acreditaria? É interessante observar
nisto tudo que o discípulo amado, embora tendo corrido à frete de Pedro, como
quem quisesse a primeira prova, não teve coragem de entrar, e somete após
Pedro, já imbuído talvez de um sentimento que trazia à tona tudo o que Jesus
fez e lhe disse, entrou e confirmou. O outro discípulo quando entrou também
acreditou porque viu as faixas deixadas, mas o Evangelho diz que eles ainda não
haviam compreendido as Escrituras. Foi preciso ver para crer. Então, acreditar
em Jesus Ressuscitado é acreditar nas Escrituras.
Continuando
com nossa meditação e percorrendo o Evangelho da Ressurreição, nos deparamos
com outra imagem estupenda. As mulheres ao se depararem com o Anjo de Deus
ouvem da boca dele: “Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi
crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar
em que Ele estava. Ide depressa contar aos discípulos que ele ressuscitou dos
mortos e que vai à vossa frente para a Galileia. Lá vós o vereis. É o que tenho
a dizer-vos”. (Mt 28, 5-7)
De
fato, elas entraram no lugar ode puseram Jesus, mas tão depressa correram para
a Galileia para ver Jesus. “Alegrai-vos”, foi a saudação de Jesus que
imediatamente foi correspondido pelas mulheres que se aproximaram,
prostraram-se e abraçaram os pés de Jesus. Que cena bonita! Que encontro
espetacular! Eis que não há mais medo, angústia, sombra ou dúvida, mas ALEGRIA!
As mulheres tiveram o seu mais significante encontro. Será que nós correríamos
ao encontro de Jesus tão logo soubéssemos da novidade? E os linhos? E a pedra?
E o Anjo?
Ficaram
lá no sepulcro sinais da Ressurreição, sinais do divino, sinais de mistério,
mas elas não ficaram presas aos sinais, e sim ao encontro. Foram ao encontro.
Foram à “antiga Galileia”. O Papa
Francisco já nos dizia ontem na Vigília Pascal:
“A
Galileia é o local do primeiro chamado, onde tudo começou!”
Então
voltar lá significa voltar às origens de nossa fé, de nossa vocação, do nosso
credo. Voltar lá significa ir por onde Jesus percorreu, pegando, relendo e bebendo
da fonte inesgotável que é o Ressuscitado. O Papa ainda continua:
“Para
cada um de nós existe uma "Galileia", no início da
jornada com Jesus "Ir para a Galileia" significa algo bonito para nós,
significa redescobrir o nosso Batismo como fonte de vida, tocar em uma nova
energia para a raiz de nossa fé e da nossa experiência cristã. Voltar para a
Galileia significa antes de tudo voltar lá, naquele ponto onde a graça de Deus
brilhando me tocou no início da jornada. É daquela centelha que pode acender o
fogo para hoje, para cada dia, e trazer calor e luz para os meus irmãos e as
minhas irmãs. A partir dessa faísca incendeia uma alegria humilde, uma alegria
que não ofende a dor e o desespero, alegria e bom tempo.”
O
Evangelho continua e nós continuamos a refletir: “Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam
para a Galileia. Lá eles me verão”. (Mt 28, 10) É o mandato de Jesus:
Ir aos encontro dos nossos irmãos, que são seus irmãos, e anunciar esta grande
alegria. Cabe a nós, hoje, anunciar a ressurreição de Jesus. Se ainda estamos
com medo, com certeza a dúvida vai me visitar: Como farei isso? De que forma
anunciarei esta alegria? A quem irei? Mas, Jesus manda irmos aos irmãos, então
não falta a quem ir. São tantos irmãos hoje que precisam desta notícia porque vivem
à sobra da fome, vivem à margem dos privilegiados, vivem a espera de direitos
como a moradia, a saúde, a educação, o amparo. Quantos irmãos abandonados à
própria sorte! O que fazemos para esses mais desfavorecidos?
Remeto-me
mais uma vez ao Papa Francisco quando em visita a Assis, dizia às crianças e
jovens deficientes que neles, vemos Jesus escondido, ferido, chagado.
Precisamos tocar essas chagas, acaricia-las sem medo, sem estranheza. Quantas
vezes temos receio de chegar perto dos moribundos, doentes, favelados,
mendigos, maltrapilhos, drogados, presos? São essas chagas abertas, como as de
Jesus que mesmo ressuscitado mostra suas chagas a Tomé, que precisamos tocar,
agora não mais para acreditar, porque já acreditamos, mas para sarar, para
reparar, para restabelecer suas dores. O Papa dizia que adoramos a carne de
Jesus no altar, nesses irmãos, ouvimos e tocamos.
Ainda
um sentimento muito bonito nos toma ao refletir a Ressurreição de Jesus. É que,
respondendo hoje ao seu chamado de sermos discípulos, missionários, de irmos ao
encontro dos pobres, corremos o risco de cairmos em uma crise profunda de nossa
existência e vocação, pois o mundo moderno nos tenta sufocar e iludir as nossas
mentes com fantasias e tentações, como facilidades, superficialidades e frieza.
Quando por acaso, cairmos assim, lembremos-nos de irmos a “Velha Galileia” e voltar
às nossas fontes, ao nosso primeiro chamado, à nossa vocação, ao primeiro amor,
à chama do Batismo. Jesus ressuscitou para não nos deixar sozinhos. É um
confortável alento sabermos disso. Por demoramos então?
Se
lemos nas Escrituras, se ouvimos de sua boca que é o próprio Evangelho, se
vemos os linhos deixados, se fomos à Galileia para vê-lo, então só nos resta
irmos aos irmãos para dizê-los o mesmo: Ressuscitou, como havia dito! Aleluia!
Aleluia!
Postulante Leonardo Fernandes
Religiosos da Sagrada Face
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