Depois de termos
percorrido o caminho da cruz, juntamente com Jesus, contemplamo-lo agora morto
e sepultado por amor de nós. Diante desta realidade podemos comprovar quão
grande, infinito e verdadeiro é o seu amor por nós, a humanidade. Um amor que
não se deixa abater diante de nossas infidelidades, mas que é mais forte que
todo tipo de amor humano, a ponto de deixar-se ferir, padecer e morrer; sacrificar-se
incondicionalmente, e entregar sua vida sem medir esforços para resgatar-nos e
dar-nos uma vida nova. Ao contemplarmos esse amor de Cristo, podemos verdadeiramente
exclamar: “Amou-nos até o fim!”.
Neste sentido, a
Liturgia das Horas de hoje abre-se com este convite a adorarmos o Rei que se
encontra morto e sepultado. Adorá-lo ganha um sentido todo especial porque nos
convida também a reconhecermos o seu amor imenso e a gratuidade da doação de
sua vida. E ao adorá-lo assim, morto e sepultado, colocamo-nos em uma atitude
confiante de espera da ultima palavra, que não é a sua morte!
Contemplar e adorar Cristo que padeceu, morreu
e foi sepultado, não é para nós uma espécie de conformismo ou um simples
entregar-se aos fatos; antes é um gesto de reconhecimento de nossa parte do seu
amor, de sua fidelidade e acima de tudo de sua obediência à vontade do Pai. A
sua morte não é o fim, esta certeza nos acompanha e amplia o horizonte de nosso
olhar: é apenas o início da vida nova, que Ele conquistou e deu-a também a nós,
conforme nos diz São Pedro: “Carregou sobre si nossas culpas em seu corpo, no
lenho da cruz, para que, mortos aos nossos pecados, na justiça de Deus nós
vivamos. Por suas chagas nós fomos curados” (1ª Pd 2,24). Por trás de todo
sofrimento até ser sepultado, há um plano de amor: salvar-nos para que possamos
viver n’Ele.
Contemplar e adorar
Cristo que padeceu, morreu e foi sepultado é colocar-se em uma atitude de
espera. Não uma espera qualquer, mas uma espera que é carregada de esperança na
vida nova que Ele quis nos dar, vida que brota da morte e que já não morre
mais. Espera que é também marcada pelo silêncio, fruto da adoração e que se faz
presente em toda humanidade: Silencia agora, aquela multidão agitada que
estivera em seu julgamento; silencia também o próprio Deus diante da morte de
seu Filho; silenciamos também nós com sua morte; a natureza inteira está em
silêncio juntamente com o Cristo Senhor que desce à mansão dos mortos. De forma
que podemos nos perguntar:
Que está acontecendo hoje? Um grande
silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um
grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou
silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há
séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos. (De uma antiga
homilia no grande sábado santo, sec. IV).
Esta espera silenciosa
faz-nos compreender melhor o amor de Deus que silencia diante da morte de seu Filho
por amor de nós, seus filhos no Filho. Faz-nos compreender melhor também o
silêncio de Deus em nossa vida. Quando por vários motivos fazemos a experiência
do silêncio de Deus em nossa vida, na verdade estamos sendo amados e não
compreendemos os planos e os desígnios de Deus, que são diferentes dos nossos!
Assim, diante deste silêncio do sábado santo, esperemos a Boa Notícia que vem
para encher o nosso coração de alegria e agradeçamos ao Senhor por sua prova de
amor, por sua fidelidade e pelo presente que Ele nos dá: a vida nova,
conquistada com sua morte! Obrigado Jesus! Obrigado Senhor por teres vencido a
morte e “quebrado” o silêncio que invadia o nosso coração para enchê-lo de
alegria!
Francisco Josimar Chaves
Noviço dos Religiosos da S. Face
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